09 fevereiro 2015

Um parto por cesariana



A minha filha nasceu exactamente no dia que estava previsto inicialmente, portanto, é uma menina muito pontual. Por causa da diabetes gestacional, a médica obstetra sugeriu-me que ela nascesse antes das 40 semanas e, como estava de urgência no dia 2 de Dezembro, marcamos para essa data. Nesse dia, cheguei ao hospital muito cedo, de malas e bagagens. Estava ansiosa por saber que tudo ia acontecer ali e dali a pouquinho tempo. Tinha a sensação de ter ido ao hospital buscar a encomenda que a cegonha tinha deixado em meu nome. Sentei-me na cafetaria com duas pessoas muito importantes na minha vida e bebi o último café de não-mãe. Tinha um nó numa barriga que já estava grande e apertada. Depois levantei-me serenamente e comecei por tratar da parte administrativa. Pouco depois vinha uma senhora buscar-me para me mostrar os aposentos e um pouco mais tarde outra senhora para me falar do procedimento. Eu tinha um parto induzido marcado. Fiz tudo como me disseram. Abri os estores do quarto e olhei lá para fora, imaginando as horas que iriam seguir-se. E as horas passaram, passaram, passaram e a minha sementinha teimava em não sair. Ora pois, se inicialmente lhe tinham dito dia 3 era dia 3 e não dia 2. 

Tic tac tic tac tic tac tic tac. E nada. 

Quase doze horas mais tarde, às 19h30, comecei então a sentir que as coisas iam mudar. Comecei a ficar xôxa e a olhar para a máquina da CTG. Estava a entrar em trabalho de parto. Devagar. Devagarinho. Tinha dores cada vez mais fortes com apenas 3 dedos de dilatação. Nos intervalos, pensava em todas as mulheres que deram origem a toda a humanidade e que nunca conheceram a epidural e achava-as heroínas. Mães que dão à luz 3, 4, 5 e muitos mais filhos assim, sem anestesia. Mas eu já não aguentava e pedi o remédio Santo. Quando o administraram quase que vi elefantes cor de rosa. Droga boa, aquela. Duas horas mais tarde, ainda a passo de caracol, voltaram mais dores, desta vez diferentes, e mais insuportáveis do que as primeiras, que foram acalmadas com mais uma seringa. Dormitei um bocadinho. A meia noite já tinha sido há umas horas atrás e estávamos, portanto, na madrugada do dia 3 de Dezembro. Às 3 horas e muitos minutos veio a médica obstetra dizer que finalmente estava quase tudo a postos, que estava com 9 dedos de dilatação… mas… o liquido estava de uma cor estranha. A sementinha tinha feito cócó (mecónio) na barriga da sua mamã e ia ter mesmo que sair naquele momento. Os planos mudaram, levaram-me logo para o bloco operatório e iniciamos a cesariana. Eu estava aterrorizada por me adormecerem o corpo, por me mexerem nas entranhas. Foi tudo muito rápido. No meio dos tremores pensava que para chegar aquilo já podia estar despachada desde as 9h da manhã da véspera e a sementinha teria nascido em dia par. Manias. E, de repente, ouvi o pai dizer "já está, meu amor, ela já nasceu", eu perguntei se chorava, ele respondeu que sim. Chamara-no para ir para perto dela, enquanto acabavam a intervenção comigo. Pouco depois, ele voltou com a enfermeira que trouxe a minha bébé, enroladinha numa manta cor-de-rosa, oferecida pela avo materna e aproximaram-na do meu rosto. Era tão branquinha e redondinha. Tão bonita. Chorei. Beijei-a. Disse-lhe palavras de amor e levaram-na para o berço. Depois fiquei na sala de recobro a recuperar. Disseram-me para começar logo a amamentar, assim, sem sentir as pernas, adormecida quase até ao peito.

Tinha a fragilidade nas mãos. O amor nas mãos... o amor, agora, palpável. 
Já não era só a Joana, ali. Agora, eu era a Joana, mulher e mãe da Mathilde.

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