11 fevereiro 2015

do AMOR


Sempre fui distante do tema da gravidez, tenho poucas amigas grávidas ou com bébés pequenos. 
Sempre tive dificuldade em imaginar ter horários que não dependessem só de mim, da minha vontade, da minha disponibilidade e a ideia de ter um ser completamente dependente era absolutamente assustadora. A minha gravidez não foi planeada, quando descobri que estava grávida, ri e chorei ao mesmo tempo, sem perceber se estava contente ou não. 

A esta altura, muito provavelmente algumas pessoas já tiveram vontade de me atirar tomates. 

Portanto, o início da minha gravidez decorreu entre a surpresa, a apreensão, alguma ansiedade, alguns enjoos e muito sono. De facto, a natureza faz bem as coisas e são mesmo precisos estes 9 meses de preparação para todas as etapas que se vão delineando ao longo das 40 semanas, as esperadas e as inesperadas . Da mesma forma que o nosso corpo se transforma por fora, nos mudamos por dentro. Com os exames, com as ecografias, com a revelação do sexo, com as CTG e ao longo do tempo parece que tudo começa a tornar-se mais real. O ser, dentro de nós, torna-se cada vez mais concreto, os sentimentos começam a crescer com as imagens que não deciframos bem, com os movimentos na barriga, com os pontapés, com os soluços. Depois chega uma altura em que começamos a ficar fartas da barriga e curiosas por conhecer o bébé cujo rosto tentámos imaginar centenas de vezes e não conseguimos. O momento em que o bébé nasce e que o conhecemos é emocionante. Lembro-me de ver a minha filha e pensar "fui eu que fiz isto? como é que eu consegui fazer uma coisa tão bonita? como é possível dentro de uma pessoa haver outra pessoa? como é possível no interior de um corpo baterem dois corações? E damos por nós a dizer aquilo que sempre achamos uma parolice, um cliché, uma frase feita sobre a maternidade: "é isto o milagre da vida". O tempo que sucede o nascimento é irreal, dizer "filha" é estranho, pronunciar o nome dela é estranho, tudo parece inacreditável. Tudo é novo. E os dias vão passando entre o medo de não se conseguir dar a resposta certa a todas as situações e o medo de não se saber fazer as coisas. Até que os receios começam a dar lugar ao prazer, começamos a perceber que conseguimos dar conta do recado e começamos a viver o tempo de outra maneira, conseguimos apreciar o nosso bébé, tocá-lo com os dedos como se fossem penas, olhá-lo nos olhos enquanto o nosso corpo o alimenta… como se o cordão umbilical estivesse ali e fosse invisível. 

E há um amor que cresce todos os dias e há dias em que pensamos que não é possível amar mais, mas o dia seguinte prova-nos que é.
… este amor… um sentimento que imaginamos, mas que afinal percebemos que nunca coube na nossa imaginação, por falta de espaço.

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